A PSICOSE NO ENSINO DE LACAN
Por Rosângela Roseli Riquena
A PSICOSE NO ENSINO DE LACAN
A psicose difere estruturalmente da
neurose e da perversão. No feticheismo, paradigma da perversão, o objeto real
se transforma em condição erótica e a pessoa só consegue ter relação sexual se houver esse objeto
no corpo do outro.
O fetiche preenche objetalmente a falta do Outro, ou seja, evita a falta
presentificando-a com um objeto real. A produção de fetiche permite que um
objeto real tenha a função de anular a castração materna.
O fetiche corresponde, na perversão,
ao lugar do sintoma na neurose. Já na psicose, a partir da abolição da falta, o
que aparecerá serão fenômenos elementares, como alucinações.
Na relação do Sujeito com o Outro, o
perverso se identificará ao desejo do Outro, assim garantirá o gozo do Outro.
Na psicose o Outro ocupa o lugar do Sujeito, e essa é a causa da sintomatologia
da psicose. O Sujeito será invadido por esse Outro.
Quando o indivíduo alucina é
invadido pelo Outro se confundindo com o Sujeito, sendo essa a explicação para o fenômeno psicose.
O Nome-do-Pai não está presente, daí
que o desejo da mãe não está barrado e o Sujeito fica preso a ele, ou seja, não
há falta.
Se há alguém que não tem falta ,
esse é o psicótico, pois o que o caracteriza é não ter vínculo social e não
conseguindo estabelecer coerência em seu mundo nem na relação com o Outro.
Lacan diz no texto “Formulação sobre
a casualidade psíquica”:
Longe
de a loucura ser um fato contingente das fragilidades de seu organismo, ela é
virtualidade permanente de uma falha aberta na sua essência. Longe de ser um
insulto para a liberdade, ela é sua mais fiel companheira, seguindo seu
movimento como uma sombra. E o ser homem, não somente poderia ser compreendida
sem loucura, como ele não seria o ser do homem se, em si, não trouxesse a
loucura como limite da liberdade.
(Texto extraído do livro “Psicanalise
Lacaniana” de Márcio P. S. Leite)
O feitiche é sempre um exemplo de perversão? Se por exemplo a pessoa gostaria de ser barbudo e peludo... Em que isto esta relacionado com a mãe?
ResponderExcluirA instauração do fetiche interrompe um processo semelhante ao que ocorre com o bloqueio da memória nos casos de amnésia traumática. O interesse do individuo se detém no meio do caminho e assume a forma de um fetiche; tal como nos casos de amnésia traumática, a memória congela na última impressão que precede o evento assustador [Unheimlich] e traumático. Então, o pé ou o sapato - ou uma parte deles - devém sua preferência como fetiche - a circunstância de que a curiosidade do menino levou-lhe a ter espiado os órgãos genitais da mulher de baixo para cima. As peças de roupa íntima tão freqüentemente escolhidas como fetiche cristalizam o momento de despir-se antes ainda de a mulher ser destituída do falo.
ResponderExcluirO fetiche é, então, afirma Freud, constituído pelo objeto da última percepção antes da própria visão traumática. Como se houvesse no fetichismo uma parada sobre a imagem, deixando o sujeito capturado por um resto ao qual ficará fixado. A interrupção na memória seria a sua proteção, pois ele, ao mesmo tempo, viu e não viu que a mulher não tem pênis. Então, a constituição do objeto fetiche é tanto a evidência da manutenção do paradoxo quanto a cristalização de um olhar que retém em sua retina o apelo de um gozo que se recusa a defrontar-se com a falta.